terça-feira, 17 de julho de 2007

A lição do Ricardo

O Ricardo fez parte, durante este ano lectivo, da turma do 12.ºI. Era uma turma do curso Tecnológico de Marketing que "apareceu" ligada à turma 12.º F - uma turma da área científico-humanística de Artes Visuais.

Poder-se-á não entender o porquê das aspas na palavra apareceu e, por isso, acrescento que, para conclusão do curso, o Ricardo (e os seus colegas da turma I) não precisava de se submeter a exame nacional, bastando-lhe a média positiva dos três anos de frequência, enquanto os alunos da turma F (científica-humanística), para além da frequência dos três anos, se tinham de sujeitar a exame final para conclusão do curso.

No início do ano, apuradas as expectativas individuais de cada aluno sobre o processo de ensino-aprendizagem para o ano que se iniciava, enquanto os colegas iam dizendo que precisavam uns de oito outros de nove valores, o Ricardo saiu-se com esta: "eu preciso de onze". Na verdade, a avaliação do Ricardo, sobretudo 11.º ano, não tinha sido "famosa".

É claro que para alunos que colocam a sua "bitola" tão em baixo, as "coisas" não podem correr bem. Assim, a maior parte destes alunos não conseguiu o oito ou nove almejado, nem no primeiro nem no segundo período.

No terceiro é que ia ser... E foi, pasme-se! Uns tantos conseguiram o oito almejado (e concluíram o ano), a outros o oito foi-lhes atribuído por consenso maioritário do Conselho de Turma (apesar do meu voto contra!) e o Ricardo anulou a matrícula. Disse-me, "preferia sujeitar-se a exame no fim do ano".

Levei o período a questionar-me sobre a razão do Ricardo para ter anulado "tão convictamente" a matrícula.

Sujeitou-se a exame!

Na 1.ª fase, não lhe correu bem... mas, na 2.ª fase, ficou aprovado com 12 (11,3 na prova escrita e 12 na prova oral).

No final, encontrei-o sorridente no corredor... Tinha conseguido! E tentei esclarecer a minha dúvida! "Professor, preferi dedicar-me à Matemática durante o terceiro período e também consegui passar!".

E eu a pensar que tinha sido... Não! Mais simples e eficaz: traçou objectivos e conseguiu atingi-los. "Professor, estudei mais Português nestes últimos quinze dias do que durante o ano todo!... mas consegui!"

Mas porque é que temos de considerar os nossos estudantes uns seres inferiores que temos continuamente de trazer ao colo, resolvendo-lhes os problemas que só a eles cabe resolver?

Parabéns, Ricardo, pelo "sucesso" que arrancaste de dentro de ti!

Obrigado, Ricardo, pela lição que "me" deste!