quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sala dos professores - último capítulo

Hesitei muito publicar a mensagem que os colegas me deixaram no jantar em que se propuseram homenagear-me.

As palavras que se seguem, escritas pelo João (que até nem esteve no jantar e portanto não a conhece), decidiram-me:

"Nunca penses que vales menos do que aquilo que vales. Deixa os outros procurarem a verdade na essência das coisas. Duns Escoto defendeu que a nossa individualidade é irrepetível. O abraço de sempre, apóstolo das coisas grandes!..."

JOÃO

Eis, pois, as palavra que os colegas de departamento me deixaram na hora da despedida:

"Chegou o momento de passares para uma outra fase da vida.

Não queremos, porém, que termines a tua carreira de professor sem te manifestarmos, como teus companheiros de grupo pedagógico e de departamento na Escola Secundária de Sebastião da Gama, a nossa admiração, o nosso reconhecimento e a nossa amizade.

Habituámo-nos, ao longo de cerca de três décadas, a ver na tua pessoa um professor de referência pela tua postura assente nos valores sólidos do humanismo cristão; pela dedicação à escola; pela disponibilidade para o trabalho conjunto; pela partilha de saberes e documentos; pelo cumprimento escrupuloso e apaixonado das tarefas e pela competência em todos os sectores da vida escolar; enfim, por um conjunto de virtudes que ultrapassam as exigências do mero profissionalismo.

Lembrar-te-emos, para sempre, como um homem inteiramente dedicado ao ensino, quer na actividade pedagógica com os alunos quer nos vários cargos que foste desempenhando, desde a Direcção de Turma à coordenação de ciclos e cursos e à assessoria do Conselho Directivo até à participação na Assembleia Constituinte e à presidência do Conselho Perdagógico que assumiste, nos últimos anos, com admirável competência, tendo em conta as profundas alterações que a escola tem vindo a suportar. Mas é, sobretudo, como Delegado de Grupo ou Coordenador do Departamento que mais recordaremos a tua grande competência e capacidade de coordenação, tanto na preparação minuciosa das reuniões, na riqueza do apoio documental, no profundo conhecimento dos temas, no domínio das novas tecnologias, na humildade e abertura das propostas e na moderação e sensatez das intervenções, como na liderança natural do grupo e na total disponibilidade para o apoio ao trabalho dos colegas, especialmente os mais novos.

Se fosses militar, trarias, hoje, o peito enfeitado de medalhas e estarias, agora, a ser agraciado com mais louvores e honrarias pelos relevantes serviços prestados... assim, num Ministério que é uma entidade sem memória nem coração e com as tropas dos teus alunos dispersos por esse mundo na azáfama do ganha-pão de cada dia, não levarás o peito cheio de medalhas, mas sim o coração cheiíssimo de velhos amigos.

Pedimos-te, pois, que aceites a nossa admiração, reconhecimento e amizade, com a certeza de que, com a tua presença, tornaste melhor o mundo para aqueles que te rodearam e contigo tiveram a dita de trabalhar.

3o de Setembro de 2008

Os professores do Departamento de Português e Francês"
(Seguem-se vinte e uma assinaturas)

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P.S.
Não era minha intenção publicar, como disse, estas palavras. Contudo as palavras do João
"Nunca penses que vales menos do que aquilo que vales. Deixa os outros procurarem a verdade na essência das coisas..." impeliram-me a publicá-las.

Apesar de continuar a pensar que há nelas um ênfase circunstancial, elas deixam-me muito satisfeito, sobretudo porque elas foram ditas por todos os meus colegas de departamento que eu vi juntos e determinados a continuar de forma coesa a sua missão de ensinar, apesar de tudo o que foi feito para os separar no último ano em que passámos juntos. Contudo, aqui fica o meu alerta para os anos que aí vêm em que uma avaliação condicionada à partida por quotas pode conduzir não a uma pedagogia partilhada mas a uma competição que pode levar ao individualismo egoísta e selvagem.

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